Cérebro ou coração apaixonado?

21 de julho de 2020 Gratular

Quais  os mecanismos que ocorrem no cérebro em relação ao amor? Mas se tudo ocorre no cérebro, por que teimamos em usar o coração como símbolo desse sentimento? 

A ciência já provou que ele bate mesmo mais forte quando encontramos a pessoa amada. Dessa forma, todo o colorido do amor é representado pelo coração, mas o que ocorre é uma avalanche de neurotransmissões mediadas pelo nosso cérebro.

Você pode ser a pessoa mais romântica do mundo, mas quando começar a entender a química da paixão, vai perceber o quão pragmática ela é. E tem mais: a paixão não é feita para durar muito tempo.

É que existe um roteiro químico da paixão que é responsável por diversas reações em nosso organismo, como o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, o aumento da intensidade de nossa respiração, a dilatação das pupilas, os tremores, a falta de apetite, a confusão mental. A paixão afeta até mesmo o nosso sono e a nossa concentração.

Pode ser amor à primeira vista ou uma atração ao ver a pessoa. É neste estágio inicial que os neurônios liberam a dopamina, hormônio que provoca euforia. De acordo com estudos da antropologista Helen Fisher, o sistema límbico, voltado para as recompensas, é ativado quando estamos apaixonados.

Toda vez que você pensa na pessoa amada, mais dopamina é liberada. O seu amor, contudo, não fica restrito apenas à pessoa, mas tudo ao seu redor parece mais “colorido”. Essa necessidade desenvolvida desde os tempos da caverna ajudou o homem evoluir. Afinal, a procriação e a criação de filhos nada mais é do que uma resposta a esses estímulos.

Sabe aquela sensação de ter “borboletas no estômago” quando você encontra a pessoa amada? Ela existe devido ao sinal que seu cérebro envia para a glândula adrenal (localizada nos rins), onde adrenalina, epinefrina e norepinefrina são bombeadas.

São estes hormônios que aumentam os batimentos cardíacos e provocam excitação sexual. Enquanto a dopamina traz um sentimento de felicidade, a norepinefrina aumenta a vontade de se estar com a pessoa. Além disso, os apaixonados têm baixos níveis de serotonina, um hormônio encontrado em pouca quantidade em pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo. Por isso, alguns indivíduos apaixonados tornam-se obcecados pelos parceiros.

Nosso processo de análise e decisão é afetado.

“A parte mais evoluída do cérebro é o córtex pré-frontal. É lá que tudo acontece: as decisões, análises de riscos, tudo fica ativo nessa região. Quando estamos apaixonados, essa área fica menos ativa. E é por isso que as pessoas cometem ‘loucuras de amor’, que podem parecer ótimas ideias à primeira vista, mas nem sempre são. Isso tudo porque a área de tomada de decisão de nosso cérebro não está em sua melhor fase”.

Outras regiões, como o núcleo caudado e a área tegmentar ventral, também são afetadas. Essas regiões são ricas em dopamina e endorfina, que têm efeitos semelhantes ao da morfina em nosso corpo. Ou seja, é normal se sentir “anestesiado”.

Quando estamos apaixonados, a amígdala passa a funcionar de formar inadequada – e isso tem grandes consequências. Se dizemos que o amor é cego, é por conta desse mal funcionamento. Localizada no lobo temporal do cérebro, é ela que comanda o bom senso do ser humano, ajuda na tomada de boas decisões, reconhecimento de situações de risco, entre outras funções.

Se você já deixou de lado coisas importantes para estar com seu amor, vá em frente e culpe a amígdala.

A partir do momento que o relacionamento amadurece, os apaixonados se tornam menos obsessivos. Após um ano, o crescimento neural retorna a um estágio normal. O cérebro volta a produzir serotonina e, por isso, um sentimento de confiança começa a fazer parte do relacionamento.

Segundo estudos, outro hormônio que torna a relação mais estável é a ocitocina. Ele é conhecido por ser liberado durante o orgasmo, mas também é o responsável por diminuir a necessidade de estar com o parceiro todo o tempo.

Quando duas pessoas estão juntas por muito tempo, uma área do cérebro chamada ventral pallidum é ativada. Nela são produzidos a ocitocina e os receptores de vasopressina, que estão associados à monogamia. Enquanto a ocitocina aumenta com o decorrer de um relacionamento, os níveis de dopamina diminuem.

Isso não significa que você não fica mais excitado ou feliz do lado da pessoa que ama. Na realidade, a necessidade deste hormônio é substituída por uma molécula chamada CRF. Ela é liberada sempre que casais estão longe – o que causa uma desagradável sensação de separação e saudade.

Além disso, o sistema límbico continua funcionando, ou seja, relacionamentos longos têm duas vantagens: a excitação do primeiro beijo e a segurança de estar com quem se ama.

Por Gisele Serpa, Psiquiatra

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